Cada dia a natureza produz o suficiente para a nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.

Mahatma Gandhi

sexta-feira, 19 de março de 2010

Gerar energia para quem?

Como visto, gerar energia elétrica sempre implica custos à sociedade. Mas, por outro lado, traz uma série de benefícios sociais e econômicos ao País, pois possibilita que as pessoas tenham luz em casa, que as fábricas possam funcionar, enfim, que se possa viver em sociedades modernas e industriais como estas em que hoje vivemos, com todas as comodidades nelas existentes. Seriam, portanto, custos necessários. Mas será que sempre? Já nos acostumamos a ouvir o discurso de que, para se manter o crescimento das atividades industriais e oferecer luz para todos os cidadãos, é necessário estar constantemente construindo novas usinas de geração de energia elétrica. Se novas fábricas estão sendo constantemente construídas, e a população está em crescimento constante, parece inexorável que o governo esteja preocupado com a construção de novas usinas, principalmente hidrelétricas, a principal "fonte" de eletricidade.

Sob essa ótica, a destruição de rios, de ecossistemas terrestres e lacustres e a inundação de sítios, bairros e por vezes cidades inteiras, seriam o "preço do progresso", e qualquer um que se oponha a construção de uma hidrelétrica é automaticamente taxado de "homem da caverna", por supostamente defender que a sociedade fique sem energia para se desenvolver. Porém, o que ninguém diz é que no Brasil, assim como a renda, a energia também é muito mal distribuída entre a população, gerando distorções que são desconhecidas da imensa maioria do povo brasileiro.

Se perguntarmos a alguém na rua para que serve a energia elétrica, há 90% de chances da resposta espontânea estar ligada à iluminação e ao funcionamento de aparelhos eletrodomésticos. Pouca gente sabe, no entanto, que em 2004 o consumo residencial de energia correspondeu a menos de 1/3 de toda a demanda por energia no País. Já o setor industrial, que precisa de energia para movimentar suas máquinas e como insumo no processo produtivo, consumiu praticamente metade de toda a energia gerada. Percebe-se, portanto, que há um grande desbalanço no destino da energia no Brasil.

Se olharmos para dentro do setor que mais consome energia, perceberemos que a distorção é ainda maior, pois de tudo que é destinado às indústrias, boa parte vai para determinado nicho de atividades empresariais, classificado pelo seu alto consumo de energia como eletrointensivo. Este, que é formado por indústrias de alumínio, ferro-gusa, cimento, celulose, entre outros, é responsável por 27% do consumo final de energia elétrica no Brasil, algo em torno de 85 mil MWh, de acordo com estimativas do prof. Célio Bermann, da Universidade de São Paulo, na publicação Exportando nossa natureza: produtos intensivos em energia, implicações sociais e ambientais (Rio de Janeiro, FASE, 2004). Isso significa que quase o mesmo tanto de energia que é destinado à iluminação de casas em todo país, para os cerca de 170 milhões de brasileiros, é gasto por um pequeno grupo de indústrias.


http://www.socioambiental.org/inst/camp/Ribeira/energia

Texto retirado do Módulo 3, Unidade 4, Atividade2 - Curso Ed. para Diversidade e Cidadania-UNESP-Bauru (EAD)

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