Destinar uma parcela tão alta da energia gerada no país a um seleto setor da economia se justificaria se este trouxesse muitos benefícios diretos e indiretos, seja oferecendo ao restante do setor industrial brasileiro matéria-prima (alumínio, ferro, celulose etc.), seja oferecendo uma grande quantidade de empregos. Porém, não é isso que ocorre.
Principalmente no setor de alumínio, boa parte das empresas que se utilizam da energia gerada pelos nossos rios é multinacional. Estão instaladas aqui e em outros países considerados de terceiro mundo, como Gana, Venezuela e Egito. A razão é uma só: estas corporações perceberam que não poderiam continuar a produzir em seus países de origem produtos que demandam tanta energia e matéria-prima. Devido à pressão dos cidadãos de seus países de origem, que não aceitavam mais pagar custos socioambientais elevados para produzir bens com tão baixo valor agregado, essas empresas foram forçadas a migrar para outros países, nos quais há poucas restrições ambientais e relativa abundância de recursos naturais. No entanto, essas empresas continuaram a destinar sua produção principalmente aos países industrializados, que necessitam dessa matéria-prima para fabricar produtos com maior valor agregado.
Assim, segundo essa divisão de trabalho, países como o Brasil têm como missão oferecer recursos naturais (minério, água, biomassa) abundantes e baratos e exportar produtos pouco elaborados (alumínio, ferro, celulose) para que os países industrializados como o Japão possam fabricar produtos mais elaborados (máquinas, eletrônicos, carros, dentre outros) e vendê-los em seus mercados internos e no resto do mundo.
Por esse motivo, se analisarmos o destino do alumínio produzido no Brasil, tanto a gerada por empresas nacionais quanto multinacionais, descobriremos que mais de 71% é destinado à exportação, ou seja, para utilização industrial em outros países. E quais os ganhos do País com essa exportação? Poucos. Enquanto a indústria de alimentos e bebidas gera 56,2 empregos para cada GWh (gigawatt/hora) de energia utilizado, a de alumínio primário gera apenas 0,8 empregos com a mesma quantidade de eletricidade, e pouco mais do que isso com a venda de outras formas mais elaboradas do produto.
Dessa forma, fica claro que antes de discutir qual a melhor forma de ampliar a geração de energia, deveríamos discutir se estamos destinando a energia hoje existente para finalidades que realmente interessam ao país. Será que vale a pena expulsar tanta gente de suas terras, destruir tantos rios, acabar com tantos ecossistemas importantes, para poder exportar produtos eletrointensivos? Se direcionássemos toda a energia hoje utilizada pelas indústrias eletrointensivas para o uso doméstico, e se fossem mantidos os níveis atuais de consumo nas casas, poderíamos dobrar a população brasileira com acesso à luz, sem a necessidade de construir uma única usina de eletricidade.
Embora esse seja um raciocínio hipotético - porque não seria possível deixar de fabricar totalmente esses produtos, necessários à produção industrial interna - ele coloca uma reflexão: talvez se esteja destinando muita energia para setores que trazem poucos benefícios diretos e muitos prejuízos socioambientais indiretos.
Assim, quando agricultores, movimentos sociais e ONGs questionam a construção de uma hidrelétrica que gerará energia para a produção de alumínio, essa não é uma atitude retrógrada, como dizem os donos das empresas de alumínio. Não se está optando pela luz ou pelas trevas, como costuma aparecer na imprensa. Ao contrário. Tal atitude faz uma opção por um tipo de desenvolvimento que permitiria ao país garantir a qualidade de vida da população e a integridade de ecossistemas em vez de aumentar os lucros de um setor da economia, que pouco retorno dá ao país.
Lutar contra esse tipo produção de energia significa não compactuar com a perpetuação da situação de subdesenvolvimento do país, pela qual vendemos energia e recursos naturais e ficamos com os prejuízos socioambientais. Não é esse o país que queremos.
http://www.socioambiental.org/inst/camp/Ribeira/energia
Principalmente no setor de alumínio, boa parte das empresas que se utilizam da energia gerada pelos nossos rios é multinacional. Estão instaladas aqui e em outros países considerados de terceiro mundo, como Gana, Venezuela e Egito. A razão é uma só: estas corporações perceberam que não poderiam continuar a produzir em seus países de origem produtos que demandam tanta energia e matéria-prima. Devido à pressão dos cidadãos de seus países de origem, que não aceitavam mais pagar custos socioambientais elevados para produzir bens com tão baixo valor agregado, essas empresas foram forçadas a migrar para outros países, nos quais há poucas restrições ambientais e relativa abundância de recursos naturais. No entanto, essas empresas continuaram a destinar sua produção principalmente aos países industrializados, que necessitam dessa matéria-prima para fabricar produtos com maior valor agregado.
Assim, segundo essa divisão de trabalho, países como o Brasil têm como missão oferecer recursos naturais (minério, água, biomassa) abundantes e baratos e exportar produtos pouco elaborados (alumínio, ferro, celulose) para que os países industrializados como o Japão possam fabricar produtos mais elaborados (máquinas, eletrônicos, carros, dentre outros) e vendê-los em seus mercados internos e no resto do mundo.
Por esse motivo, se analisarmos o destino do alumínio produzido no Brasil, tanto a gerada por empresas nacionais quanto multinacionais, descobriremos que mais de 71% é destinado à exportação, ou seja, para utilização industrial em outros países. E quais os ganhos do País com essa exportação? Poucos. Enquanto a indústria de alimentos e bebidas gera 56,2 empregos para cada GWh (gigawatt/hora) de energia utilizado, a de alumínio primário gera apenas 0,8 empregos com a mesma quantidade de eletricidade, e pouco mais do que isso com a venda de outras formas mais elaboradas do produto.
Dessa forma, fica claro que antes de discutir qual a melhor forma de ampliar a geração de energia, deveríamos discutir se estamos destinando a energia hoje existente para finalidades que realmente interessam ao país. Será que vale a pena expulsar tanta gente de suas terras, destruir tantos rios, acabar com tantos ecossistemas importantes, para poder exportar produtos eletrointensivos? Se direcionássemos toda a energia hoje utilizada pelas indústrias eletrointensivas para o uso doméstico, e se fossem mantidos os níveis atuais de consumo nas casas, poderíamos dobrar a população brasileira com acesso à luz, sem a necessidade de construir uma única usina de eletricidade.
Embora esse seja um raciocínio hipotético - porque não seria possível deixar de fabricar totalmente esses produtos, necessários à produção industrial interna - ele coloca uma reflexão: talvez se esteja destinando muita energia para setores que trazem poucos benefícios diretos e muitos prejuízos socioambientais indiretos.
Assim, quando agricultores, movimentos sociais e ONGs questionam a construção de uma hidrelétrica que gerará energia para a produção de alumínio, essa não é uma atitude retrógrada, como dizem os donos das empresas de alumínio. Não se está optando pela luz ou pelas trevas, como costuma aparecer na imprensa. Ao contrário. Tal atitude faz uma opção por um tipo de desenvolvimento que permitiria ao país garantir a qualidade de vida da população e a integridade de ecossistemas em vez de aumentar os lucros de um setor da economia, que pouco retorno dá ao país.
Lutar contra esse tipo produção de energia significa não compactuar com a perpetuação da situação de subdesenvolvimento do país, pela qual vendemos energia e recursos naturais e ficamos com os prejuízos socioambientais. Não é esse o país que queremos.
http://www.socioambiental.org/inst/camp/Ribeira/energia
Texto retirado do Módulo 3, Unidade 4, Atividade2 - Curso Ed. para Diversidade e Cidadania-UNESP - Bauru (EAD).
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